segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

The Motel


A chuva cai a cântaros, procuro apressar esta caminhada e chegar ao meu destino.
Uma tabuleta com néons brilhando no nevoeiro, quebrando a monotonia da longa estrada, como se de um óasis se tratasse.
No seu interior deixo cair o casaco num dos chapeleiros, e peço ao recepcionista a minha chave, era esperado no quarto 1811.
O seu interior normal, o quão normal um quarto consegue ser. As paredes com papel simples e em padrão de flores, os habituais quadros de naturezas mortas, conformista e neo-conservador. A janela perscrutando a estrada.
Sentado numa poltrona antiga, penso nos meus propósitos, no meu objectivo. Fujo da minha sombra.
Caminhei milhas para me perder, pois perdido estarei sempre num sítio que escolhi, procuro nas listas de telefones um sítio onde possa estar, e quanto mais longe e distante melhor.
Olhando para o relógio vejo marcadas as 4:30, de novo a mesma hora, fui encontrado.
Antes que possa mudar, sou assalatdo por memórias, despedidas e se's pairam no ar, a minha sombra encontrou-me.
Tento não tremer, corro para a casa-de-banho e olho-me aos espelho.
Sou um reflexo sem dono, quem é este que olha o espelho? Um homem demasiado cobarde para a sua sombra confrontar.
Passado o susto, sorrio o sorriso dos ignorantes.
Deixo-me tombar na cama mas, encontro-me incrivelmente perdido, já é tarde de mais.
A posição, o lugar ocupado pelas minhas mãos, o canto direito da cama, revejo tudo nestes pequenos pormenores, estou perseguido até aqui.
Onde estou eu? Não sei.
Sei que no entanto corvos tombam ao meu parapeito, esperando que o meu coração pare, festejando as lamúrias.
E não acaba aqui pois o tecto é uma assombração, escrita de diálogos de namorados, pessoas que já mais nãor econheço, reneguei essas verdades à muito.
Gritaria se tivesse em mim voz. Abdiquei dela à muito, quando pus os meus ideais em aposta com o destino, e fugi pela porta das traseiras do designio divino.
Saio do quarto, as paredes cheias de fotografias do passado, no hall de entrada não há recepcionista nem livros.
No livro de visitas, sou eu o único ocupante, em todos os instantes, em todos os momentos.
As lâmpadas piscam incessantemente enquanto reprimo em mim as memórias negras que surgem como ervas daninhas.
Subo as escadas apenas para encontrar mais escadas. Atrás de mim, apenas mais escadas para o nada, e paa tudo agravar sussuros suaves em vozes que não aceito dizem as mias brilhantes jruas de amor.
Finalmente uma porta.
Volto ao quarto, atravesso toda a divisão como um dançarino louco em pleno palco, apaixonado e dedicado.
Caídos no parapeito, desisto.
De olhos tombados, tudo me absorve. As matas, os passeios, as casas, os beijos, as saudades, as promessas, o passado.
Não importa onde fuja, não importa para onde desapareça, vou sempre chegar a um local e aí uma sombra me vai apanhar, uma memória, uma referência e aí tudo começa.
Tal chuva de memórias incessante na minha vida.
Olho agora para a estrada e vejo-a de gabardine comigo no seu braço, mísera imaginação.
Trocamos olhares, nada mais.

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