quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Transcritos- Retratos


Posso observar durante anos uma coisa e descrevê-la das mais diversas formas. Posso avaliar textura, forma, cor, por muito ou pouco tempo mas, irei sempre retratá-lo de forma diferente mas, onde está a lógica de não retratar o mesmo se o mesmo é igual ao objecto inicial?
A captura e o objecto são as duas constantes de um retrato e essas duas constantes nunca são iguais, ou pelo menos a captura...
Num retrato a avaliação não é só o acto de observar e registar, nós somos o captador, os nossos olhos são a visão e o que muda nesta equação é sempre a alma inquisitiva que nunca se encontra a mesma.
Neste momento a mais bela paisagem pode ser apenas um retrato sombrio e enevoado, imprimindo a minha depressão e a minha sombra sobre a paisagem descaracterizando-a, torcendo a minha visão e distorcendo até apenas sobrarem arestas.
A minha alma é o próprio retrato, cada linha, cada pincelada, vão ser retratos segundo a minha verdade, segundo o meu espírito.
O retrato das coisas é o meu simples auto-retrato e isso nunca se vai alterar, sou cada palavra que escrevo, e segundo eu, segundo a minha identidade, a única verdade é a minha.
Encho-me de conceitos apenas meus, e retratos de tudo são apenas retratos meus.


Escrito numa aula de Português em Outubro

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