quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Everchanging


Morrer sem o coração parar. Desaparecer sem nunca ter realmente saído do lugar. Perder-se mas, estar sempre no mesmo local.
E esta morte é simples metáfora mas, nunca será uma simples palavra, a morte do ser não é a morte em questão, a morte dos lugares onde depositei o coração, essa é a verdadeira questão. É a morte lenta que sacode o meu corpo, a memória persiste mas, o local onde ela pertence não é o mesmo (nunca mais será).
Inquieta-me o simples coração ver a distorção e a corrupção deste lugar onde deposito memórias felizes, memórias que nunca vão ter um lugar onde voltar, que se perdem nas crónicas do pensamento.
O meu pensamento cria inventório, tenta ligar todas as memórias a uma época, a um momento, a um lugar, como quadros numa galeria, são momentos, e momentos que irei sempre recordar, são testemunhos do caminho de onde vim, e sem elas nunca saberei para onde me encaminharei. Portanto inquieta-se este coração sem local onde suas memórias possam repousar, torna a realidade em simples mito, e um passado que nunca mais no presente se situará.
Sento-me pensativo no muro de pedra, antes era tudo sebes e árvores, e olho para a praceta onde ficava o chafariz (uma criança outrora corria à volta dele).
Vejo uma criança a rir-se no cheiro da marsia, no meio dos trilhos e das flores, sorrindo sem nunca querendo ir-se embora, e assim nasce a memória.

Agora, que vida pode essa memória ter no meio de árvores cortadas, e excessos de pedras lapidadas?

Ao menos tenho-as, tenho memórias, tenho sempre. Memórias felizes e que irei manter vivas, mantendo velas acesas e chamas incandescentes que testemunham a sua preservação, e elas farão de mim quem quer que eu um dia seja.
Olho agora o céu, não suportando a violência que este lugar agora me traz, vejo nuvens claras, o memso céu de à dez anos atrás, e suspiro, vagarosamente, percorrido de saudade. A nostalgia que sempre me acompanha, acompanhará agor mais alguma memória.

Tudo muda. Parece que nada nunca muda.

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