segunda-feira, 19 de novembro de 2007

An End Has A Start


Deitado no meu colchão de betão de olhos virados para o tecto, procurando a música que justifique as minhas acções, tentando captar o som que fazia de mim humano e não uma máquina. Monumental escultura eu sou, cinzelada e completamente de pedra, onde antes estava todo o espaço do mundo para um coração, está agora apenas uma casa vazia, paredes e estradas de memórias esforçando-se por bater mas, é tudo uma ilusão, consigo esculpir um sorriso mas, todas as ilusões são fáceis de retratar quando conformismo é tudo o que me atinge.
Por entre a penumbra da memória, por entre o desejo e o passado, o infortuíto e a má fortuna encontro-me deitado num mato, estou de volta.
Fui em tempos arquitecto, e desenhei o mar, azul e cristalino, as suas ondas a quebrarem-se na praia, envolvendo a areia branca e fina numa camada de espuma branca. Estruturei as antigas árvores, cada pormenor de musgo e fungos, cada insecto que caminha pelo tronco acima, cada copa densa e sazonal abanando conforme os suspiros do vento. Neste local sou rei e senhor, fui eu que criei, o meu mundo perfeito de perdição eterna, onde no verão vinha ter os sonhos mais perfeitos e bonitos que a minha mente utópica e romântica conseguia ter.
Sinto-me um estranho na minha mente, estes sonhos já não são meus, o criador deste lugar, encontra-se a dormir dentro de mim à muito tempo, sou a sua carapaça exterior, e jurara nunca mais voltar a este lugar.
Levanto-me por fim, conformado à realidade, caminho pelos tortuosos trilhos, passando por todos os locais onde te protegi e ergui um mundo, para habitares, onde serias sempre a mesma, a minha fonte de inspiração, onde guardas o que eu sou, quem eu fui.
Caminho perdido ans memórias, nas palavras reais que eram-me irreias, nas expectativas que criei com este lugar, o mundo dos meus sonhos, onde anda a sua caminhante, onde tu andavas.
E são apenas memórias, o antes de tudo, o começo, quando ainda só aspirava aos teus lábios, foi aqui que tudo começou, é aqui que termina.

Sento-me nas dunas e olho o horizonte deste mundo de sonhos criado por mim, é bonito.

O teu vestido azul esvoaça ao sabor do vento, tal como naquele dia, tal como naquele momento, esboço um sorriso e nunca te olho de novo, limito-me a sorrir, contra toda a dor, contra toda a saudade:

- Este é o fim, não é?

Simpels caminhante, aqui nasces. Aqui pereces.

- Tenho saudades tuas.

O teu sorriso enigmático. Não o percebo.



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