quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

We used To Spit Venom. Now We Just Rest


Um barco afunda-se no horizonte, uma tempestade que não cessa, chuva que cai sem parar, uma cortina transparente que difunde mistério e propaga melancolia.
Ao fundo as velas parecem-se arrastar ao som do vento, brancas e rasgadas atiradas e contorcidas ao som e força das ondas, a tempestade que maltrata os que o mar ousaram conquistar.
Caminho para a ponta da areia, os meus sapatos húmidos e cabelo encharcado, atrás de mim nada há senão contornos escuros, estou fechado numa cena de sonho, eu e o mar tempestuoso que ameaça consumir a terra e revirar o mundo.
E o barco procura resistir, apercebo-me que nada da vida é para tentarmos evitar, não vale a pena ser rocha no rio, se vamos ser sempre arrastados.
E porque evito eu pensar, porque procuro eu ser barco numa maré e tentar navegar, quando na verdade em mim está a tempestade, tentando quebrar o meu desejo. Sinto-me cansado, à espera de uma voz que se perde.
Diz-me quem sou, tira o peso do tempo e da memória, liberta-me da consternação e da solidão, suspiro, toda a melancolia num gesto.
E sabendo agora que não vale a pena, deixo-me ir sorrindo, tentando avançar pelas ondas. O casaco que passa pela água, o passado lá atrás, os pés submersos, a onda que cai, os olhos que se abrem no fundo.
E a espuma puxa-me para o fundo, e a tempestade parece longe, a luz do sol também, nem costa nem casa por perto, no entanto não penso.
Deixo-me cair, sentir a areia entre os meus dedos, o barco afundando-se comigo, passando ao meu lado, protecções e alma que se deixam cair no mar.
E fizemos um longo caminho para chegar aqui, no fundo, a cair sem rumo, entre ondas e múrmurios, a solução finalmente encontrei.
E ouve o mar a tremer ao som do meu coração, e ouve a minha vida a gritar dentro de mim, a tempestade lá em cima, na minha vida, o infinito abismo do mar o meu sonho.
Nunca desejámos que acabasse assim mas, as memórias e os nossos actos trouxeram-nos aqui, quem és não sei, quem fomos jamais esquecerei.
Mas, chega de pensar, de sonhar e de lembrar, agora no fundo do mar, no silêncio e no isolamento, posso finalmente descansar.
O amanhã é só mais um dia para um rapaz com alma de marinheiro, coração de vagabundo e vontade de caminhante

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