domingo, 24 de fevereiro de 2008

Esperas por mim na plataforma do comboio.
O teu cabelo negro a esvoaçar com o vento, as tuas sardas a contrastarem com a pele branca, o teu lenço verde que voa no ar e perde-se, e não reparas.
Olho para ti aquando a minha saída e sorris fragilmente para mim.
- Ficaste muito tempo à espera?
- Não.
- A sério?
- Sim.
Mesmo duvidando continuamos a caminhar pela estrada acima, apertas o meu braço procuranndo alguma convicção que já nem tens na tua pessoa, pareces distante, pareces outra pessoa. Os teus passos leves, a chuva que caía, o teu cabelo molhado, e o teu ar sério, inquisitivo e perdido no mundo, um olhar que nunca cheguei a perceber.
- Está a chover.
- Eu sei.
- É deprimente, especialmente estando eu tão feliz.
- A chuva não tem sentimentos, não sei porque tem a mania de dar sentimentos às coisas que não os tem.
Calo-me e sorrio, não preciso de pensar nisso netse momento. Agora estou contigo, e estamos juntos, enquanto isto durar, nunca haverá chuva na minha vida.
Caminhamos solitáriamente pelo Chiado abaixo.
- Tive 16 a História.
- Parabéns.
- Não foi nada.
- Está bem.
Revalidas o teu amor com um aperto no meu braço. Mas, não preciso que tenhas pena de mim, não quero que seja assim, continuamos a andar, a chuva continua a cair.
Subimos a uma escada da igreja e dás-me uma festa na cara, os teus olhos já não são verdes, são de uma cor que não consigo distinguir.
Já não sou quem era, pois agora apra ti, pareço igual a todos os outros, valores de intelectual com os seus autores e as mesmas inseguranças e opiniões.
- Gostas de mim?
- Gosto
- Ainda bem.
Ficamos lá um pouco, já não somos quem éramos quando começámos, nem somos quando acabámos, continuámos a andar, eu sorrindo, e tu olhando para o lado, decidimos andar um pouco.

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