quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A Viagem de Carro de John Ripperton & os seus pensamentos:


Começo esta viagem como começo todas as outras, atrás do volante, o braço no parapeito da janela do carro, a brisa do mar a passar-me pelo nariz enquanto atravesso a beira-mar a uma determinada velocidade, acima de mim são tudo luzes, um céu estrelado de lâmpadas de estrada.
Tenho pensado bastante no significado das coisas, no que fiz, no que haverá pela frente, um pouco como uma estrada, uma longa introspecção.
Ao meu lado vai a Sonia, o pequeno sorriso valioso e bonito que me apaixona ainda hoje, os cabelos encaracolados caindo sobre os ombros, os olhos azuis olhando pela janela, uma descrição vaga mas, não é preciso saber mais.
Olho também eu pela janela, a noite já vai longa. Acendo um cigarro e olho a serra no horizonte, a praia à minha esquerda, as ondas morrendo na areia.
-Achas, que vai ser sempre assim?
Olhei para a Sonia perplexo, o que iria ser sempre assim? Seríamos nós sempre assim, apaixonados, que queria ela dizer com aquelas palavras.
-Como assim?
-Tu sabes...assim.
Olhei levemente e sorri, gostava de sorrir para ela. Gostava de vê-la rir-se para mim, fazia-me sentir feliz, e acho que também a fazia feliz.
Não percebo muito do futuro, e tenho medo de tentar adivinhar, acho que se continuarmos assim, não há nada a temer, não achas?
Sonia não respondeu, sorriu de novo e voltou às suas observações do céu estrelado, eu voltei aos meus pensamentos.
Pensamentos esses que nunca me deixam, impressionante como a minha mente divaga sem eu sequer lhe ter pedido, como avança por caminhos nunca pensados à partida e se perde.
E futuro, não gosto de adivinhar, tal como tinha referido. Não gosto do futuro por ser demasiado imprevísivel, por não saber o que esperar, por ser dádiva e uma ferroada, e que interessa pensar num futuro que não podemos controlar quando temos este momento que se prolonga mais do que o tempo que lhe é dado. É uma dádiva a noite, pois pode prolongar-se consoante o momento, e marcas são feitas à superfície da pele.
E o ar da noite continua quente, é uma noite de verão que aquece-nos, e encontramo-nos sem caminho. Quando não se tem um sítio onde ir não há nenhum lugar onde tenha que ir, podemos apenas dispersar-nos e fazer parte da paisagem.
-Está uma noite bonita.
-Pois está, faz-me lembrar a nossa cidade-natal.
-Pois, talvez...
-Lembra-me o porto. Lembras-te do porto?
-Lembro-me claro, quando era pequeno ia sempre lá brincar com o Domenic e o Geno.
-Como vão eles?
-O Domenic está a trabalhar como motorista de autocarros, o Geno...
-Não precisas de dizer, a Sylvia contou-me.
-...Está bem.
-Para onde vamos?
-Não sei bem.
-Dizes-me quando chegarmos?
-Está bem.
-Gosto das estrelas, fazem-me lembrar como somos pequenos.
-Eu gosto delas, por serem a inspiração de tantos.
-É um bom motivo para gostar de estrelas.
-Concordo.

Nenhum comentário: