domingo, 13 de janeiro de 2008

Simon


- Porra!
Simon levantou-se após cair na calçada da rua, o fato negro sujo, os joelhos raspados.
Limpou-se o melhor que pôde com a mão, sacudindo as calças.
Olhou para o relógio que apontava a meia-noite, as ruas ainda apinhadas de gente, resolveu que havia tempo para uma última bebida.
Entrou calmamente no bar de Jazz e sentou-se a um canto a fumar um cigarro, ao fundo uma bonita mulher de vestido vermelho era iluminada no palco enquanto tocava no piano.
Esta senhora lembrava-lhe do seu irmão Sonny. O Sonny tocava lindamente.
Era realmente um pianista maravilhoso, desde pequeno que tocava todos os dias, o grande piano de cauda na sala grande da casa dos pais deles, provando logo aos seis anos que era um rapaz prodigioso.
- Deseja alguma coisa?
A empregada de saia e sorriso olhando para Simon.
- Um pequeeno copo de conhaque, sem gelo por favor.
Enquanto a mulher se afastava, Simon apagava o cigarr, prontamente acendendo o seguinte, era uma noite longa.

- Obrigado a todos os que vieram hoje, o Sonny de certo que agradeceria.
O pai de Cindy lançou um grunhido,, ao qual a sua mulher não contestou.
- Aquele homem pôs a minha filhota na miséria!
- Eu disse-te Anthony, aquele homem era louco, ele ia ser a nossa desgraça, que mal fizemos nós a Deus para merecermos isto?
Simon passou pelo bar lentamente, os dedos deslizando pelo balcão, matutando na bebida que ia beber, odiava eventos destes.
- E matar-se mesmo ao lado da minha filhota, se se queria matar, que fosse longe, à coitadinha.
A tia de Cindy, Jeanette não continha nada, a sua voz estridente ecoando pela sala onde ceiavam os convidados.
- O Dr. Peabody tinha-nos avisado, que aquele homem tinha problemas, devíamos ter insistido, deviamos ter feito algo.
Simon engoliu a bebida rapidamente, era uma anestesia total.
- Um escândalo, um escandâlo.

- Aqui tem a sua bebida.
A empregada loura sorrindo, a simpatia de estranhos.
- Muito obrigado.
Simon sorriu levemente enquanto recebia a bebida e deixava-a junto a si.
- Deseja mais alguma coisa?
- Não, muito obrigado. Uma questão no entanto. Poderia dizer-me se há possibilidades de tocar no piano.
A empregada questionou-se por instantes.
- Não me parece que seja possível...Lamento.
Simon sorriu.
- Não faz mal nenhum.
A rapariga desapareceu na escuridão do bar e Simon ficou sentado a ver a outra mulher a tocar no piano, a música dolente perfurando a noite, a chuva a bater nas janelas.

- Estou cheio.
O pai de Cindy sentado ao lado de Simon, a tia do outro lado, no mesmo táxi.
- Não se preocupe Anthony, a Cindy é forte, ela vai sobreviver a este pequeno incidente, agora o que nos resta é amaldiçoar aquele homem, Sonny Mirror, porque entrou ele na vida da minha querida Cindy.
Sonny olhava para o vidro tentando abstrair-se.
- E já viu?! Ninguém da família dele apareceu. Ele mata-se e nós é que tratamos do funeral dele, a Cindy é um coração de ouro.
- Esses Mirror são muito estranhos. Quase nunca vi nenhum deles, no casamento acho que esteve lá o irmão ou algo assim.
Simon riu-se levemente, enquanto olhava para a chuva que começava a cair nas ruas.
- Acho que ele tinha uma irmã, chamava-se Katherine julgo eu.
O pai de Cindy olhou para a tia.
- Hmmm... Acho que a Cindy já me tinha falado dela, da primeira vez que levou lá esse homem, já aí via como ele era estranho!
A tia ajeitou-se no banco, bastante interessada.
- Como assim? Ele fez algo estranho?
- Nada de especial ao ínicio. Bastante correcto e culto mas, dizia algumas coisas de Kierkgaard e haiku e coisas assim, e ás vezes abstraía-se. E começava a divagar no espaço. Ou então mantinha-se calado durante imenso tempo.
- Que estranho! A Cindy não disse nada.
- Não disse ela ma,s disse eu. Disse para ela se afastar daquele estranho imediatamente mas... Ela não me ouviu! E agora, pronto.
- Pobre coitadinha.
Simon desviou o olhar do vidro e olhou para o refastelado pai:
- Respeitam-se os mortos.
- Desculpe?
- Estava a dizer, que se devia respeitar os mortos.
O homem olhou-o como se vendo um louco, depois apercebeu-se.
- Eu já o vi em qualquer lado...Espere. Você não é o irmão do Sonny, Simeon ou Savio.
- Simon.
O homem olhou mas, foi a tia que falou.
- E não tme vergonha? De nem prestar homenagem ao seu irmão, e comer a nossa comida, onde andou você?
Simon olhou para a mulher de pescoço fino, e fitou-a com os olhos.
- Não lhe pedimos nada.
- Que atrevimento!
- Desculpe, pagamos o funeral e ainda vem com...
Mas, era tarde, Simon pedira ao carro para parar.
- Onde vai?
- Para casa.
- Mas, está a chover imenso homem.
- Gosto assim.
Simon abriu a porta e caminhou com a chuva a cair-lhe no casaco, olhando para a cidade que o rodeava.
- Estes Mirror. Todos eles estranhos.

Simon levantou-se da sua mesa, e deixou algumas notas para cobrir a gorgeta. Agarrou no casaco e lançou-se para a rua.
Outrora tinha passado noites com o seu irmão Sonny a tocar no piano, os aplausos, eram todos para Sonny, ele era a estrela, Simon também o via assim.
Chegou ao seu apartamento que antigamente dividira com o irmão, antes de Sonny ir trabalhar para a Glass publications e ir viver com a Cindy.
Deixou o casaco numa cadeira vazia e sentou-se no sofá. Ligou a luz e começou a escrever na máquina velha de Sonny.

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