quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Na Varanda- There's No Such Thing As A Right Reality PT 1


Deitado na cama. A música beijando-me os ouvidos.
Vejo pessoas a falar mas, as suas vozes são versos numa canção lenta, que progride em mim, fazendo-se ouvir nos meus olhos, fazendo-se ouvir nas pontas frias dos meus dedos.
O tecto é uma tábua rasa. Tanto ou mais que o meu próprio ser, o meu céu urbano, o céu que ilumina, e é um simples tecto mas, torno-o no que eu quiser, na minha mente só há estrelas, vindas de todas as noites onde desejei estar longe.
Quebro-me da realidade, deixo os meus amigos a um canto da divisão, expandindo-a.
As paredes afastam-se, prolongadas pelo som da música. Nesta realidade, o som é a lei, a soberana.
E tudo gira, tudo gira em volta do tecto, este é o seu cento, centro do mundo, ponte para a realidade.

Fecho os meus olhos, queimando a ponte e largando-me por fim totalmente, já não sinto os dedos.

Deixo o meu corpo noutro plano apocalíptico, torno-me frequência AM, uma linha de pensamento nas ondas FM, a voz possuída do teu rádio.
Quem sintonizar encontra a mesma música que estou a ouvir, que me leva para outro mundo, algures na estrelas, uma música que se propaga, toca em todos os que a ouvem.
E o tecto esse limite, esse quebra-se, e abrem.-se vales e desfiladeiros. Embrenho-me na música sobrevoando por cima deles.
Deitado nesta cama posso ir onde desejar, ao sabor do pensamento, livre da dor de pensar, como se Pessoa fosse.
Quando a música acabar, vou voltar ao mundo, desço á realidade. Vozes e vultos regressarão.

E este céu magnífico e mágico desaparecerá. Aproveito os últimos segundos da canção para viajar, e sonhar, sonhar com este céu que nunca irá regressar.

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