terça-feira, 25 de novembro de 2008

The Heart Beats For The Mountain

Atravessa o jipe a terra batida, oferecem resistência as rodas ao chão e conturbada viagem pelo caminho aberto, levando a poeira ao céu.
Milhares de kilometros separam-me do local a que chamo casa mas, neste momento estas montanhas e vastos planaltos são o mais perto que tenho de um sítio que podia chamar de lar.
Passo +pr velhas casas, e povoações isoladas, ouço o som do bater do coração da terra, e nas pessoas vejo a alma de África transparecer.
Os homens aqui não são homens mas, rocha, erva e ar, moldados com a alma da terra, enraízados neste continente, berço da vida humana.
As suas palavras não são língua, são a consciência, a expressão natural da alma, e mesmo não conseguindo comunicar, sinto a sua sinceridade, a essência de um povo, de um continente, sentido nas palavras que não encontro em lado nenhum, as palavras largam termos e tornam-se conceitos, presos em união com o solo por baixo de nós.
E é neste canto do mundo que descubro a simplicidade que nega em mim a complexidade de um ser social, apelidado por outros como normal.
Estou livre de ligações degeneradas e sorrisos decrépitos e cínicos, sinto-me solto do peso do fardo que se entrenha no corpo e envenena a minha consciência.
E vendo a genuinidade num simples sorriso, a alegria num olhar, vendo a verdade nua e sem muralhas envolvendo, sei que o que aqui vejo é real, as estruturas que erguem a minha máscara já ruiram, e nada me resta sem ser eu.
E apoio-me no capot do jipe e vejo a estrada que se estende interminavelmente no horizonte, e abaixo de mim, batem os frenéticos tambores de África, e o ar trazendo a melodia da herança e legado, o ritmo da natureza, finalmente sinto-me em paz.
Olho para tudo e aceito este mundo, os meus braços não se fecham em defesa desta vez, as minhas mãos não se cerram em oposição e deixam o ar deslizar, o mundo tem um caminho directo para o meu coração.
Neste canto do mundo finalmente, começo a descobrir quem sou.

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