segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Um Dia Perfeito


- És peculiar. - Disse Cindy após uma longa sessão de observação do que a rodeava.
Sonny apenas sorriu, o sorriso que havia mostrado naquela primeira noite, no clube de Jazz que a encantara para sempre, ela gostava mesmo daquele sorriso.
- Vou dar uma volta Cindy, não esperes por mim. - Disse, abandonando o hotel Reservoir onde se encontrava hospedado.
De chapéu de feltro cobrindo o cabelo curto, Sonny acendeu um cigarro lentamente enquanto olhava o átrio da entrada.
Remenisciente de uma arte oriental, o átrio tinha vários elementos Zen, como pequenas cascatas interiores, ou pequenos budas espalhados pela divisão, o aroma de incenso ardendo lentamente apaziguava a mente, tal como a música de fundo do CD das terapias orientais volume 7.
Sonny de casaco no braço perguntava-se sempre se ao invés de pequenos Budas houvessem pequenos Jesus Cristos se os turistas não achariam isso, "piroso".
Saiu pela porta da frente, deixando uma gorgeta ao porteiro.

- E deixaste-o andar sozinho?
- Annah, o Sonny é um adulto, não precisa de alguém que o vigie todos os dias, eu confio nele.
Do outro lado de telefone sentia-se o silêncio. Annah matutava em cada palavra, como haveria de expressar-se sem ofensa?
- Mas, ele não é normal... O Dr. Jeffrey sempre o disse. Cindy! É pelo teu próprio bem, o bem dele.
Cindy encolheu os ombros e revirou os olhos.
- Ele está muito melhor acredita, desde a última evz a sério.
- Duvido muito. Sabes como esses doentes são, imprevísiveis!
Cindy suspirou, aparando o golpe.
- Esse "doente" de que falas, acontece ser meu marido...
- Desculpa, querida. Mas, podes culpar a tua prima por se preocupar contigo? Não quero que sofras, nunca o devias ter conhecido. Ele é tão estranho.
- Gosto dele assim.
- Mesmo assim querida, algo nele não bate certo.

Passeava pela praia olhando as ondas, o casaco sempre debaixo do braço, observando a espuma gentil do mar que abraçava a areia, as gaivotas sobrevoando-o. Deixou-se ficar parado durante instantes quando sentiu um puxar na manga da camisa.
- Olá Jeanny.
A menina olhou-o dos pés à cabeça antes de fazer um beicinho.
- Não foste tocar piano comigo onem à noite!!
Sonny sorriu e apoiou-se num joelho, era uma menina de sete anos perspicaz, e com um feitio bem vincado.
- Perdoa-me mas, a Kathy Bower estava ali, e sabes que ela também toca muito bem o piano, deixei-a experimentar, não te vi.
A menina afastou a cara, cruzando os braços.
- Eu sou melhor pianista que a Kathy Bower! Trocaste-me logo, mesmo depois de prometido, as promessas não se quebram.
Sonny sorriu melancólicamente.
- Tens toda a razão Jeanny. As promessas são a cumprir. Fazemos assim...vamos dar uma volta na praia para compensar, e eu prometo que hoje toco piano contigo.
- Tens a certeza que não queres tocar com a Kathy Bower?
Sonny sorriu.
- Tenho pois... Tocas muito melhor que a Kathy Bower.
Jeanny olhou-o firmemente, esperando ver a verdade nos olhos dele.
- Está bem! Mas, aviso-te. Não se deixa uma senhora à espera.
Sonny voltou a sorrir.
- Não me esqueço.

As duas senhoras encontravam-se na esplanada do bar do Reservoir Hotel. Pegando num copo com Licor, Linda terminava o seu racíocinio:
- A sério, aquele casal do 427 é estranho.
A sua companheira Margaret anuiu afirmativamente com a cabeça.
- Ouvi dizer que estavam de Lua de Mel. Imagine-se, lua de mel e o rapaz... Sonny não é? Passa a vida na praia a brincar com crianças, parece um bebé grande.
- Ele é muito estranho mesmo... e a mulher dele, a Cindy não fica muito atrás. Sempre fechada o quarto ao telefone. Disseram-me que ela sofria de uma doença.
- Uma doença?
Linda levou um cigarro à boca, satisfeita com a reacção que provocara na amiga.
- Sim. Uma doença severa que não a permite sair à luz. Dizem que o rapaz só descobriu depois de casar com ela, agora tenta fugir dela.
-Rumores Linda. Devias saber melhor, eles são um casal tão bonitinho.
- Mas, estranho... Especialmente aquele Sonny. Não vou muito à cara com ele.
- Tu nunca vais à cara com ninguém-
- Mesmo assim...acho que tenho razões quanto a este.
- Não sejas cusca. É um rapazinho engraçado, e toca bem o piano.
- Pois...talvez.

O sol começava a pôr-se na praia em frente ao Reservoir Hotel. Sonny continuava de casaco debaixo do braço, à sua frente Jeanny corria alegremente sobre as ondas e caíndo na areia rindo-se.
- Jeanny sabias que o mar e a areia são amantes?
- Não me mintas Sonny. O mar e a areia não são pessoas, não podem beijar-se!
Sonny riu-se. Rapariga perspicaz.
- Não sejas objectiva Jeanny. Tem calma e deixa a imaginação eprcorrer-te. Vês como a água percorre milhares de quilómetros só para desfalecer na areia? é um sacríficio, um suspiro só para abraçar a areia.
- Não acredito em ti Sonny! Não me mintas!
- A sério. Quando o mundo nasceu, muito antes de eu e tu, havia duas pessoas que se amavam. Um dia o rapaz aprtiu para o mar procurando a benção do pai da princesa que vivia num país distante. Mas, levantou-se uma tempestade, e o navio naufragou-se. No entanto antes do seu último suspiro jurou que ia voltar a tocar na mão dela e tornou-se na primeira onda.
A princesa aguardando no precípicio foi um dia abraçada pelo mar, pela onda, pelo príncipe, e o seu coração preocupado desfez-se em alívio. E a princesa desfez-se em grãos de areia, querendoe star para sempre com o seu amado.
A rapariga franziu o olho.
- Continuo a não acreditar em ti.
Sonny deu uma gargalhada.
- Talvez tenhas razão, posso sempre sonahr, não posso?
- Que sonho mais parvo, eu queria ser uma cantora.
Sonny fingiu um ar sério.
- Mas, já és. Ou sou demasiado mau pianista para si?
Jeanny pôs a mão na dele e diss, confortando-o:
- Não é seres mau, és muito bom, melhor que o papá ma,s não és famoso, eu rpeciso de tocar com alguém famoso.
Sonny riu-se alto. E assim foram caminhando, pela praia em direcção ao pôr-do-sol.

Sonny sentou-se na cama. Cindy dormia confortávelmente ao seu lado, olhou para o relógio. Uma hora para ir ter com a Cindy e tocar o seu piano.
Abriu a gaveta, e tirou um revolver .22. O cano na sua boca, um único disparo.

Nenhum comentário: