terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A Lenda Do Peixe-Dragão


-Talvez apanhemos hoje um peixe-dragão, meu filho.
O rapaz olhou perplexo, no entanto a seriedade do velho pai era total.
- Um peixe-dragão? Mas, os dragões não existem!
O pai olhou-o de forma estranha, como se tivesse dito a coisa mais estranha no mundo.
- Quem falou em dragões? Eu vou apanhar um peixe-dragão.
- Pai não existem peixes-dragões.
O pai pausou momentaneamente de colocar o isco, soltou uma alta gargalhada.
- Como podes dizer isso? Já viste algum?
Tinha sido superado.
- Não...
- Então como podes dizer que não existem?
- Porque nunca vi ninguém falar em peixes-dragões.
O pai franziu o sobreolho, e atirou o anzol à agua, uma minhoca na ponta contorcendo-se na água.
- Ouviste-me a mim.
O rapaz sorriu corando.
- Oh...

Lucy preparava o jantar, o marido tinha ido com o seu filho passar o dia nas montanhas a pescar.
Sempre com a porta no canto do olho, procurando sinais de alguma presença familiar, entretanto lavava o mesmo prato duas vezes.
Seguidamente alguém apareceu de rompante na cozinha.
- Mãe, mãe. Apanhei um peixe-dragão!
A mãe olhou primeiro perplexa para o balde de água do filho, onde uma pequena truta nadava calmamente, depois fitou o marido reprovadoramente.
- O que andaste a dizer ao rapaz, Edward?
O marido esboçou um sorriso de orelha a orelha enquanto encolhia os ombros.
- Pai quando é que ele se transforma?
- Mais tarde meu filho, mais tarde.
- Tens a certeza? É que ele parece-me igual.
- A mim parece-me que está maior.
- Pois é!!!


Nessa noite o rapaz encontrava-se debaixo dos cobertores, olhando surrateiramente para o balde de água, esperando que o peixe se transformasse em dragão.
Pouco depois acontecia. Do balde surgia um dragão com aspecto de carpa gigante, as escamas vermelhas e os bigodes amarelos.
Dançava frenéticamente no ar, rodopiando sem parar, nas suas asas o brilho das gotas do orvalho da madrugada reluziam com o luar da lua.
- És mesmo um peixe-dragão?
A bela fera não respondeu, limitou-se a olhar momentaneamente antes de voar em espiral para o tecto.
O rapaz piscou os olhos, a lua desaparecera, e o sol raiava.

- Pai, pai o meu peixe virou peixe-dragão.
O velho pai sorriu.
- Então onde está ele?! Ele tinha ar de ser dos grandes.
Os olhos do rapaz brilhavam, estava extasiado.
- E era pai! Era enorme, e tinha bigodes, e escamas vermelhas! Mas...
- Mas?
- Acho que ele fugiu! Eu pisquei os olhos momentaneamente e ele desapareceu! Achas que ele volta? Eu prometo tomar conta dele.
O pai riu para surpresa do filho, Lucy ouvindo a conversa da cozinha.
- Volta, sim. Todas as noites os peixes-dragão voltam para junto da primeira pessoa que viu quando se transformou.
O rapaz esboçou um sorriso de orelha a orelha.
- A sério?! Ele volta?
- Todas as noites Sonny, todas as noites.

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