quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Em Revisão


Se fosse um livro...

Se eu fosse um livro, poderia de mim ler uma história.
Capítulos e parágrafos, notas de rodapé e páginas soltas. Uma longa história de desventura e contradição, alguns momentos dignos de recordar, outros simples momentos a apagar.
Sem rimas e musicalidade se fazem os últimos relatos, menos momentos bonitos, alguns mais introspectivos.
E é nestes momentos em que gostaria de ser um revisor. Um senhor com um prefácio no nome (doutor ou apenas excelentissimo senhor), e rever tudo. Pôr tudo em análise, e avaliação.
De pena da mão, e respeitável olhar crítico que tantas obras produziu, iria olhar perplexo para esta história. Começaria a riscar, e a transcrever (ora portanto a rever, como digno revisor faria).
Começaria com um simples toque de tinta vermelha ou roxa, e apagaria algumas passagens. Alguns momentos de dúvida, outras memórias penosas.
Cada linha seria uma passagem mais forte, movido e apaixonado pela história, sentindo-me personagem, tentaria capturar-me nos olhos de outros.
Mas, este revisor não consegue escrever algo de novo, não consegue mudar o rumo, nem pôr o pretendido em novo pedestal.
A história era complicada, disso não há duvida. Mas, não consigo escrever-te de forma perfeita, a tua imagem é distorcida e não consigo ver a tua figura definida.
Largo a pena, desistindo.

Se tu fosses um livro...

Serias sobretudo passagens censuradas aos meus olhos. Sem nunca poder ver a figura completa, estarias apagada.
Citações e parágrafos completos rasurados. Cabeçalhos e períodos completamente omitidos.
E veria-me como um nome num index, parte do índice mas, sem nada que me ligue. Pois nesta história nunca soube bem quem fui.
Roubo as palavras que escrevem a tua história, e tento percebê-las, quem foste, e quem és, não sei. Já tentei fazer tantas vezes o teu retrato, e nunca consegui descobrir quem és.
Sou o revisor mas, não consigo retratar-te de forma perfeita, falham-me as palavras e faltam-me os factos.
Portanto as mais firmes e reais palavras nunca representarão nada, pois não sei bem o que estou a representar. Tudo o que pensava conhecer era relativo.
Foste um enigma do qual nunca tive resposta.
E na hora do adeus, na hora em que me abandonaste, pude concluir que na tua história, nunca vou saber quem sou, nunca mais vou saber quem deixei para trás.

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