segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A Ode


Ah vida, és tu a única constante neste lapso de tempo, e no entanto és tu a única que apenas ambiciono compreender.
Pois não sou ainda livre. Não sou livre de caminhar estes vales, sorrindo descontraídamente, vagabundo de passaporte carimbado. Estrela de terra, que nunca encontrará um lugar a que chamará casa.
Na estrada encontro uma saída, uma saída de tudo, o mundo como ele foi desenhado para se ver. Não preciso de paredes nem de posses, trocava tudo pela beleza da estrada, um saco de cama nos campos verdejantes da minha terra.
E não há muito para onde ir no mundo, cada vez mais pequeno, cada vez mais decifrado. Troco todas as certezas da ciência por um momento de misticismos, de silêncio em que a única certeza é a de que estou vivo.
Mas, onde fica este desejo, num mundo preso por regras? Não me deixam ser livre. Nasci num mundo de regras que não abdica de mim, simplesmente quem sou, senão propriedade de algo, de alguém?
É um mundo pequeno de mentes fechadas que não me deixa andar e caminhar sem me questionar, pois a procura da minha alma é uma expressão rídicula para a máquina e os formalismos, e chamarme-iam de vagabundo e fechar-me, pois seria um louco.
Mas, vida loucos são todos os que te negam e acham que ser livre é uma loucura. Os sonhos são privados deste mundo, e é-me inconcebível essa realidade, é frustrante.
Pois o mundo envolve-me num fumo de dúvida e pensamentos, prende-me em complexos de relações, e tudo resolve-se com uma simples caminhada. Onde está o problema de uma disputa, de uma morte, de uma paixão que acaba, de um final, se o mundo continua igual?
Quero ser escritor mas, quero escrever sobre algo verdadeiro e concreto. Sociedade e ficção são conceitos demasiado abstractos.
Quero escrever sobre pessoas, sobre a simplicidade da vida. Quero escrever sobre os peregrinos do mundo, movidos pela fé, quero falar com o chefe de família no café, com o poeta das avenidas sentado numa fonte, e quero escrever sobre ti.
A vida é uma história, e quero escrever sobre todas as histórias com que me encontrar, e fazer da vida uma canção, uma canção para as gerações futuras, que para começar apenas um passo é preciso dar.
Ilumina-me a noite então vida, todos os obstáculos serão apenas isso, obstáculos, e a vida não irá parar.
Serei um vagabundo. E se alguma vez me prenderam ao chão, serei um vagabundo na mente, e escreverei páginas, que o mundo nunca conseguirá prender.

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