domingo, 10 de fevereiro de 2008
20 de Setembro de 1947-
“É tarde e escrevo. Sobre? Não sei bem, qualquer coisa a ver com o meu irmão Sonny.
O problema não é sobre o quê, é escolher a informação, o que eu quero retratar. Poderia escrever sobre as suas virtudes e defeitos, sobre os seus feitos ou histórias mas, penso que não consigo, porque também não sei a quem estou a escrever, nem sei para que serve isto, escrever.
Embrenhei-me tanto tempo na minha escrita que deixou de fazer qualquer sentido, ambições e objectivos sem qualquer sentido, porque agora no final o que acontece, é que o meu irmão está morto, e eu nada fiz.
Hoje foi o funeral dele, e que estranho de toda a gente que estava lá, nenhuma delas conhecia realmente o meu irmão, ninguém sabia quem ele era, penso mesmo que alguns nunca o cumprimentaram na vida, e no entanto estavam lá, de luto.
E nós Mirror? Onde estava cada um de nós? Meu pai está morto há cerca de quinze anos, e a minha mãe faz no mês que vem oito, a Catherine, está algures no Arizona, com o marido, o Coronel Ralph McFinnegan ou algum nome irlandês derivado.
Isto lembra-me o meu irmão, os meus pais, a sua morte. O Sonny esteve lá no dia em que o meu pai morreu, eu não, estava já em Chicago.
Nas palavras dele, que encontrei num dos velhos diários dele, cadernos rabiscados quase sem nexo:
“Hoje o meu pai morreu, senti-o nos meus braços quando largava o seu último suspiro, o cabelo branco passando entre os meus dedos, o relógio parado.
E ele sorriu, antes de cair ele sorriu, despedindo-se, como se soubesse que era aquele o momento, em que iria dizer adeus. É estranho escrever sobre ele, sabendo que nunca mais o vou ver, que a imagem dele, sorridente e com o bigode característico, fumando um cachimbo, esta imagem que fica gravada mas, que nunca mais irei viver, neste momento não sei o que sinto, só sei que ele devia estar aqui. “
Poderia transcrever na integridade mas, do que valeria? O ponto que pretendo fazer é que, ele devia estar aqui, por mais impossível que pareça ele não estar, sei que ele devia, pois ele era o ser humano mais extraordinário que conheci.
Nunca se zangava, nunca o vi gritar, nunca o vi cometer um erro de julgamento, via tudo com calma e sinceridade, e eu, tentava ser como ele mas, o meu humor e personalidade nunca conseguiam competir, demasiado efusivo, ele, demasiado calmo.
Outro ponto, quando o meu pai morreu, eu fugi. Não tendo uma relação como a de Sonny, pensei que era melhor afastar-me, fiquei em Chicago, isto é, até ele comprar um apartamento e eu ter ido viver com ele. Mas, o que queria dizer é que foi o Sonny, foi ele que reparou tudo, foi ele que tratou da família.
E agora, morreu. Por mais que tente perceber porquê, não consigo. Tinha-se casado com a Cindy, parecia feliz.
No entanto algo sei sobre o Sonny, ele escondia o que sentia para não preocupar a gente à sua volta. Isso apenas me faz sentir culpado, por me ter afastado dele, por o ter deixado sozinho.
Não sou como os seus amigos próximos do funeral, que achavam que ele devia ser mandado para um hospício, ele não era nenhum louco, acho que uma das respostas poderá estar na escrita dele:
" Quando morreu, morreu a infância. O meu pai era a ponte entre quem eu fui, a inocência de ser uma criança. Todas as crianças são inocentes até verem o mundo, até o mundo os ter abatido. Ele morreu, já não sou criança"
Escrevo lentamente, e gostava de escrever umas frases simples sobre o meu irmão, sobre quem ele foi mas, acho que nunca vou conseguir, eu não o conhecia, nem ele mesmo se conhecia, no entanto, continuava a ser meu irmão, e tudo o que sei dele, tornou-me alguém melhor, mesmo que a Catherine diga que eu queria ser como ele, talvez seja verdade.
E como se escreve sobre perder um irmão? Como se escreve sobre perder um melhor amigo? Especialmente desta forma, se fosse acsa teria desabado, pois não conheço maior sofrimento do que ver uma das presenças da minha vida desaparecer para sempre, roubado no instante, poderei parecer frio mas, não sou, apenas não quero pensar em porquê, apenas quero descansar, beber até adormecer, ainda é muito cedo para só ter saudades.
Sonny Mirror
Irmão e amigo
Todos os momentos futuros que não temos
Na minha memória permanecem"
Simon
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