Como o gotejar de uma torneira, as melodias reluzem com cada gota, o seu brilho reflectido no luar que atravessa a janela, as melodias que invadem e que aos poucos se difundem por cada centímetro do meu corpo.
Uma fina conexão de notas que atravessa ruas solitárias, e treme perante a brisa da noite de Inverno, e que no entanto se propaga, alimentando-se de cada pequena luz do céu distante.
Com cada suspiro absorvo o eco dessa melodia, o meu corpo revibra, cada local obscuro do meu ser, num lugar que transcende a minha existência carnal, que lança amarras aos sonhos, e que desponta o meu imaginário, como pequenos fios, tecendo um caminho, uma ponte que junta e une todas as realidades do meu ser.
Descansando o meu corpo cansado numa velha cadeira, deixo a escuridão do quarto me envolver, apenas permitindo que a luz dos candeeiros da rua me beije as faces de momento em momento.
Ao fundo, num lugar não designado, a música surge, pelas ranhuras da porta, pelas brechas da janela, e enamora os meus ouvidos, e aí o ciclo se reepete.
Abdico dos meus olhos para largar o real, deixo o cansaço embebedar a minha mente de porções de sonho e aí cada pequeno compasso, cada história na palavra da melodia, banhado por momentos de pura magia me lava, e assim torna a minha consciência, em algo muito distante de mim, em algo que já não me prende, uma realidade trancada, algures em mim.
E aí deixo-me apenas flutuar, ao som das ondas, do som que me invade, e de olhos fechados e de consciência de eu livre, posso ser tudo, tudo o que neste mundo não sou, as luzes nocturnas e o sonho que me agarra sorrateiramente no meu mais profundo momento de cansaço. E é então que de novo nasci, num mundo diferente, sem lógica, ou emoção inerente, uma valsa nocturna, marcada pelo som, e pelo surreal.
E quando por fim me desprender deste mundo, quando por fim me entregar por completo à noite, deixarei a melodia levar-me, e abrirei os portões do reino de Morfeu.
A melodia, essa, aqui permanecerá muito depois de me entregar, continuará a percorrer as ruas, e os mares, e de novo, na escuridão aparecerá, e levará tantos outros a reinos distantes, que só a noite lhes trará.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
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